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Na segunda-feira (9), a família de Valdori Hahn esteve na Câmara de Vereadores de Dois Irmãos para se manifestar e fazer cobranças. O morador de 65 anos faleceu no dia 30 de maio, no Hospital Nossa Senhora da Graças, em Canoas, após enfrentar um calvário via Sistema Único de Saúde (SUS).
A tribuna popular foi utilizada por sua filha Bruna Borges Hahn.
– Hoje, eu não estou aqui pelo meu pai, eu estou aqui para que nenhuma família viva a tragédia que nós vivemos. Eu estou aqui para que ninguém mais tenha que ver alguém que ama definhar por um crime que poderia e deveria ser evitado. Foram meses de espera, meses de dor, de desespero, choro e angústia. Tudo isso para, no fim, eu ver o meu pai morrer como se a vida dele fosse descartável, como se ele fosse só mais um número. Nós não aceitamos, nós não nos calamos e nós não vamos nos conformar com isso – disse ela.
Bruna contestou as declarações de alguns vereadores na sessão ada.
– Dois Irmãos é uma cidade próspera, referência regional e nacional em tanto aspectos, mas, quando se trata de saúde, somos obrigados a depender do hospital de Canoas, um hospital que se encontra superlotado, sucateado e que foi palco da maior tragédia da minha família. Na última sessão desta casa, eu ouvi com muita atenção o que foi dito, e hoje, antes de escrever este texto, eu escutei novamente o que todos vocês falaram e o que todos vocês também não falaram e se calaram. O vereador Elony afirmou: “A saúde de Dois Irmãos é muito boa, investimos o dobro do que é previsto em Lei”. Vereador, com todo respeito, não use Lei como parâmetro de moral. Nem tudo que é legal, é moral. Se nós, enquanto cidade, investimos o dobro, é porque vocês entendem que o que é previsto em Lei não é o suficiente. E o que aconteceu com meu pai mostra que nem o dobro é suficiente. A vereadora Celina disse que “erros médicos infelizmente acontecem”. Isso não é um erro, é um crime, e no caso do meu pai nós vamos tratar como crime – declarou.
Segundo a filha de Valdori, ela e suas irmãs buscaram por ajuda de todas as formas.
– Eu e minhas irmãs ligamos desesperadamente para todos que podíamos. Minha irmã foi até a prefeitura, se reuniu com o prefeito e o secretário da Saúde, e qual foi a resposta? “Fizemos tudo que estava ao nosso alcance”. Mas a verdade é que, quando meu pai foi transferido, Dois Irmãos lavou as mãos, deixou de se importar e virou as costas – afirmou Bruna.
Ela disse que a família pretende ingressar na Justiça.
– Nós vamos procurar todos os responsáveis, vamos culpar todos os envolvidos, porque não foi um erro, foi um crime. Todos os envolvidos vão responder por isso. Por último, deixo um pedido bem objetivo: que o nosso município disponha de um profissional da Assistência Social dedicado a atender famílias que desejam judicializar os processos relacionados à saúde; que esse profissional tenha como principal objetivo orientar juridicamente e emocionalmente essas famílias, mostrando os caminhos possíveis, como a solicitação da DITA, que foi mencionada pelo vereador Kelvin na semana ada e que foi o único vereador que me ligou dando sugestões do que a gente poderia fazer. Enquanto Canoas seguir sendo nosso hospital de referência, precisamos de ações paliativas que amparem a população. E essa é uma medida simples, urgente e possível – concluiu Bruna.
Relembre o caso
Valdori ou por uma cirurgia na coluna no mês de janeiro, em Canoas. No último dia 18 de maio, em virtude de complicações, foi internado primeiramente em Dois Irmãos e depois encaminhado para o Hospital Nossa Senhora das Graças, onde, segundo a família, “simplesmente foi jogado em cima de uma maca e deixado lá”. Somente no dia 29 ou por nova operação no hospital canoense, vindo a falecer no dia seguinte. A família relatou que falhas foram identificadas no atendimento da primeira cirurgia, em janeiro, entre elas, “um fragmento de pinça cirúrgica deixado na coluna do paciente”.
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REPERCUSSÃO NA SESSÃO
O assunto repercutiu durante a sessão. Citado por Bruna, o presidente Elony Nyland (MDB) reiterou que a istração municipal fez o que estava ao seu alcance.
– Nós, vereadores, estamos aqui para defender o povo de Dois Irmãos. Fazemos tudo o que é possível e quase o impossível, mas desde que a saúde seja aqui nos postos e no hospital. A gente entende a família, sente pelo acontecido, mas seu Valdori foi atendido da melhor forma aqui no Hospital São José e encaminhado para neurocirurgia em hospital pactuado pelo Estado para Dois Irmãos. Não há forma de procedimento do nosso município intervir por troca ou pedido de intervenção em condutas hospitalares extra município. Os hospitais de média e alta complexidade são prestadores de serviço via Estado – o Estado tem que ser processado. O município fez seu trabalho de assistência da maneira que poderia fornecer – afirmou Elony, em meio a protestos da família na plateia.
O presidente pediu que o vereador Kelvin Penedo (PT), também citado por Bruna, expusesse o que fez para ajudar no caso. Kelvin, que não pretendia se manifestar, disse que o presidente gosta de provocá-lo, e acabou subindo à tribuna.
– Os esforços que tentei fazer foi via regulação do Estado. Eu tenho alguns contatos que trabalham na regulação do Estado – médicos e enfermeiros –, e os esforços foram para tentar um leito em Porto Alegre. A gente que o Nossa Senhora das Graças não é referência para ninguém; ele acolhe 197 municípios – posso estar enganado no número –, mas ele não é um hospital que acolhe de fato. É um hospital que precisa muito ser melhorado. Infelizmente Canoas tem uma regulação própria, assim como Caxias também tem, Porto Alegre tem, e existe a regulação do Estado. Infelizmente não foi possível levar ele até Porto Alegre. Cabe a nós, vereadores, não só ouvir a comunidade, mas acolher também – declarou ele.
Elony, então, comentou:
– O senhor interveio e não conseguiu; assim o município fez. Todos se esforçam para conseguir o melhor para nossa população, porém não depende nós.